Poesias

SALMO DO OPERÃRIO

Falo Senhor, das mãos suadas do operário
que alimentam aves de rapina
criadas nas estrumeira patronais.
Falo, Senhor , das mãos engraxadas
semeando na ventania a nossa dor.

Falo, Senhor, das mãos calosas
que ainda cantam e sangram por suas unhas
fincadas no ombro insubmisso da liberdade.
Falo, Senhor, deste meu povo que geme e cisma
pelas bocas caladas do estômago
pelas máquinas desejantes do lucro.
Falo, Senhor, do operário como charque
espetado ao sol, presa dos abutres
nos varais das fábricas, nos arames farpados.
Falo, Senhor, do orgulho sublevado dos mansos
das baionetas ensarilhadas do ódio
que apunhalam a sombra precária dos sonhos
mas não ousam reconciliar o açoite com a mão.
Falo, Senhor, da mão reconciliada com o braço
a manar pássaros dos porões para a liberdade.
Do braço com a cabeça que governa o açoite
e sacrifica o bezerro imolado por nossas culpas
sob um berro de sangue tão morrido no coração.

Talvez, Senhor, uma esperança qualquer
mal-agourada de presságios
e estremunhando na aurora
desperte o anjo de seu pavor
a hora de seu torpor
a vida de seu tutor
e o operário, Senhor, de sonhos amealhados
cante pela vez primeira..


07/06/2011

 

 

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